quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Dilemas da Educação no Século XXI

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Escola ou Fábrica? (ilustração by Frato)

"Dinheiro não educa. Quem educa, ainda hoje, é o educador. É inútil ter máquinas, computadores, tecnologia, maravilhas eletrônicas na sala de aula se, por trás de tudo isso, não houver um educador. Se não houver aquele ser humano especializado que faz a ligação dinâmica entre as possibilidades biográficas do educando e os valores e requisitos de um projeto de nação, a nossa comunidade de destino. Se não houver, sobretudo, a interação viva entre quem educa e quem é educado, se não houver a recíproca construção de quem ensina e de quem aprende." (O que sobrou da sala de aula. Texto de José de Souza Martins, Sociólogo, professor da USP. Publicado pelo Estado de São Paulo, em 30/12/12)


Leia com atenção as linhas acima. As palavras compõem um tecido que unido pode ser percebido de várias formas. É preciso atentar para o que está nas entrelinhas, sejam vãos minúsculos por onde o ar passa pelo tecido, seja na perfeição ou imperfeição do traçado que fez com que surgisse tal pano, tecido,  costura e roupa.

"Dinheiro não educa", até porque seu principal propósito ou mote ao ser criado foi o de ser um meio de troca, nada além disso. Hoje, sobremaneira, posiciona-se sobre nossas cabeças como o direcionador de nossas ações. Estudamos, nos formamos, entramos no mercado de trabalho e nos posicionamos sempre em busca de empregos que paguem mais, que remunerem melhor e, sendo assim, para tal, em relação de direta consonância, acreditamos justamente o contrário, ou seja, que é o dinheiro que possibilita a educação...

A educação surge, nasce, se desenvolve e acontece dentro de cada ser humano enquanto respirar, de modo informal ou formal, nos bancos escolares ou nas ruas... Aprendo quando ouço música, ao ver alguém dançando, numa sala de cinema, nos versos de um poeta, no olhar de jovens apaixonados, nas letras de um livro técnico, num site ou blog da internet. O germinar da educação é natural em todos e em cada um de nós, como vai se desenvolver é que são outros quinhentos. Se formos estimulados, se tornará uma premência e uma necessidade tal qual respirar, comer ou amar. Se não nos for demonstrado o valor, o interesse e despertada a paixão pelo conhecimento, pela ciência ou pelas artes, ainda que aprendamos não iremos buscar um saber mais robusto, composto e lapidado.

Não digo com isso que o dinheiro não ajuda. Permite escolas mais equipadas, oferece recursos tecnológicos, livros, corpo docente mais qualificado, instalações mais adequadas e tudo mais, no entanto, nada disso perdura se não há no estudante, estimulado em casa, a partir dos pais, e na sociedade, na comunidade em que vive, por seus professores, pelos meios de comunicação, pelas autoridades ou por quem quer que se disponha a isso, a disposição para aprender, saber, conhecer e tornar este conhecimento parte de si, repercutindo para seu progresso e de todo o mundo.

O educador, como destacado, é o articulador, o mobilizador, o agitador social que pode desencadear nestes estudantes, a partir da mais tenra idade, tudo o que eles serão capazes de fazer. Do mesmo modo que educadores podem fazer tudo isso, contando é claro, com o apoio de tudo o que a humanidade compôs em termos de recursos - do lápis e caderno aos computadores e a internet, ele também pode emperrar todo o processo. Basta para isso cruzar os braços, repetir para sempre as ladainhas, sem compor, sem provocar, sem estimular, sem crescer ele mesmo, apenas sendo o que não se quer deles, ou seja, que se acomodem e se entreguem ao dinheiro e suas necessidades...

É fácil falar, vão dizer alguns. Escrevem-se linhas e mais linhas pedindo estas reações em cadeia, de alunos, professores, famílias, gestores, autoridades, empresas e da sociedade como um todo, mas parecemos não ver, ouvir, sentir e, muito menos agir... 

Tive professores que eram agitadores sociais, mobilizadores, articuladores assim como também tive aqueles que bateram cartão na escola e na vida, sem se incomodar nem um pouco com isso, cumprindo suas jornadas e o que lhes cabia de acordo com as convenções e contratos assinados. Quem estava certo? Ambos, cada grupo com a sua razão e motivos, mas certamente que os sonhadores, idealistas e loucos do primeiro grupo ainda vivem, ao menos em meu coração, alimentando ideias loucas (ou nem tanto) que me movem rumo ao amanhã. Agradeço a ambos, inclusive aos acomodados, pois com eles aprendi o que não queria ser e a vida também traz estas lições, aquelas relacionadas ao que nos incomoda e, certamente, esperar o tempo passar, sem nada ou pouco fazendo para que o futuro seja melhor para as gerações vindouras não está entre as minhas missões nesta vida. Creio que esta lição também levei aos meus alunos, nestes mais de 25 anos de vida como educador...

Como no caso do dinheiro, que não sou louco de desprezar, menos ainda de queimar, as tecnologias não podem e não devem ser desprezadas. Pensar um mundo sem elas e uma escola que abdique de sua presença (se bem que as vezes até sonho com um projeto de escola alternativa sem TICs...) é como imaginar que o mundo possa prescindir de automóveis, telefones, geladeiras e afins e voltar a ser como no século XVIII. Romântico, mas nada prático, creio que não nos acostumaríamos a realidade diferente da que temos hoje. O que nos falta é incorporar de fato e não como ficção, estes computadores, tablets, smartphones, redes 3G, mobilidade, vídeos on-line, internet e tudo o mais as aulas.

Neste ponto esbarramos nos modelos mentais vigentes e na cultura estabelecida quanto a como é a escola, como agem os professores, como organizamos as carteiras, de que forma devem se comportar os alunos... Vencer esta barreira é mais difícil do que instalar todas estas tecnologias nas escolas do Brasil e do mundo, creiam-me... Mas o sonho está aí, diante de nossos olhos e vamos vencer, para o bem, seja na introdução das tecnologias, seja no estabelecimento de uma educação de qualidade, como perseguimos a tempos. Que venham os desafios, somos movidos por eles e enquanto existirem teremos motivos para viver, para estar por aqui...

Por João Luís de Almeida Machado

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